segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011 2 comentários



Oi, você, estranho, que sempre aparece em ocasiões especiais, importantes e cruciais na minha vida e na vida de todas as pessoas. Quero, agora, falar com você. Assim, frente a frente. Para isso, peço que saia de mim para poder ouvir tudo o que eu tenho a te falar. Bom, assim está melhor. Se não saísse, conseguiria dizer, mas não conseguiria mostrar a esse outro possível estranho que nos vê falar, agora. Mas enfim, deixando esse lero-lero pra lá, quero te contar algumas lembranças. Lembro que quando eu nasci, eu chorei porque vi o desconhecido, e então você tava lá comigo. Teve aquela vez, também, que eu comecei a dar os primeiros passos, lembra? Você estava tão presente naquele momento. Você quase não me deixava aprender a andar, po. Sabe quando meus dentes ficavam moles e você vinha e me impedia de arrancá-los? No final eu sempre te vencia, mas enfim... você esteve lá. Dia desses tava lembrando também de como você me abraçava quando eu via minha mãe saindo pra trabalhar e pensava que ela iria me deixar sozinha, abandonada e nunca voltaria. Ela sempre voltava e você ia embora. Foi assim também quando eu comecei a estudar. Você me acompanhou no primeiro dia de aula. Era tudo tão estranho, tão novo. Mas tinha vezes que eu te desafiava e te expulsava, você lembra? É, eu fui muito valentona em alguns momentos. Como naquele 31 de agosto, na chuva, que você se aproximou de mim e quase me fez ir embora, mas eu que te mandei embora. E você foi. E eu fiquei e como foi bom ter ficado e ter te mandado ir dormir. Em 2008, quando eu mudei de colégio, você também quis ir comigo no 1º dia de aula, mas eu não deixei. Aliás, você até foi comigo, mas se perdeu de mim algumas vezes. Nos vestibulares você começou a fazer as provas comigo e depois foi obrigado (por mim) a sair. Tava só me atrapalhando. Quem não ajuda, também não atrapalha, né, colega? Tô rindo agora, lembrando das vezes que minha mãe brigava comigo e me dava umas chineladas e você vinha, pegava na minha mão e fazia eu me trancar no banheiro até a raiva dela passar. hahaha agora é engraçado, não é? naquele momento você não me deixava ver essa graça toda, seu bonito. E agora estamos você e eu, de novo, cara a cara. Aquela mesma sensação de quando nasci. Chorei vendo o desconhecido e me sentindo frágil, insegura, desprotegida. Pois é, me vejo na mesma situação e você tá de novo comigo. E em todas essas fases de mudança, você vem e me segura firme pela mão. Eu vou e sei que você vai comigo e vai me acompanhar, ainda, em vários momentos da minha vida, assim como na de todas as outras pessoas, mas, agora, te peço que adormeça. Adormeça, ainda que não seja pra sempre, ainda que seja só por enquanto, mas dorme. 'Dorme, Medo Meu.'

carla guimarães
domingo, 20 de fevereiro de 2011 0 comentários



E eu, que tanto tinha pra falar, me vejo aqui, engolida pelo nada e sozinha com o silêncio. Tanto tinha pra falar, que não falo nada. As palavras me esmagam, me sufocam. E elas são tantas que não cabem dentro de mim, mas são tantas que não conseguem sair todas de uma vez só. E vou eu, deixando escapá-las aos poucos, como quem acha que quem as lê soltas, consegue entender a complexidade que cada uma delas carrega. Palavras esperando para serem ditas, esperando serem compreendidas. Compreenda-as. Compreenda-me.

carla guimarães
 
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