sexta-feira, 9 de março de 2012 0 comentários

Não existe felicidade dentro de um ônibus

Pararei os próximos minutos da minha vida pra falar sobre uma coisa que todos -ou pelo menos nós, pobres- enfrentamos diariamente. Uma coisa que te aperta, tira seu fôlego, te faz suar, te faz malhar e te deixa cansado: ônibus.
Com tantas experiências vividas dentro desse meio de transporte voltado para a população desprovida de transporte próprio, vulgo carro, resolvi falar sobre.
Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que não existe felicidade dentro de um ônibus. Verdade. E nesse caso, falo sobre todo tipo de ônibus, dos menos desagradáveis aos mais desagradáveis (porque todos são desagradáveis). Ônibus significa ida ou volta, sempre é triste, sempre se deixa pessoas, tanto na ida, quanto na volta, ainda que nelas a gente reencontre outras pessoas. Sempre é triste deixar pra trás alguém. Sempre choro em ônibus, nesses tipos de ônibus, no caso. Esses que me levam para casa, que me trazem de volta, que me levam pra outros lugares longe e etc. Sempre choro, ninguém nunca sabe. Pra mim dói, dói muito isso de despedidas e partidas, mas enfim, who cares, né?
Falando dos coletivos amados, agora... psh. Olha, tem coisa mais linda do que um ônibus lotado parar do lado de outro ônibus lotado e um ficar vendo a desgraça do outro? Fica todo mundo lá com aquela cara de sei lá o que, olhando pros outros la com a mesma cara, todo mundo no mesmo sofrimento... uma beleza! Já passei muito por isso. Passo até hoje, aliás.
Já fiquei presa na porta do ônibus. È vero. Ia entrando toda felizinha pra sentar (porque lugar pra sentar dentro de um ônibus é que nem um poço de petróleo, né?), daí o ônibus ia ficar parado, na hora que tô passando na porta, o motorista fecha e eu, eu fico lá, presa, bem linda.
Nunca caí em ônibus, mas já foi quase, bem quase mesmo, é cada segurada nos ferro lá que só Jesus pra saber de onde é que eu tiro força. Aprendi a surfar lá dentro, falando nisso. É uma beleza, você malha de graça e sem querer, ainda.
Agora vamos combinar uma coisa tensa: quando você não sabe se dá o lugar pra pessoa em pé sentar, ou não. Vei, quando chega uma mulher do seu lado e você não sabe se a mulher é gorda ou se tá grávida? maior constrangimento do universo. Você não fala com medo que ela se sinta ofendida, mas também fica aquilo de "ah, ela não dá lugar pra mulher grávida". Quem não anda de ônibus não sabe o que é indecisão. E o pior é quando ce finalmente consegue um lugar pra sentar bem linda, daí entra alguém que você tem que dar o lugar. "Felicidade de pobre dura pouco" nunca faz tanto sentido quanto dentro de um ônibus. Se bem que felicidade é modo de dizer, né? porque já disse que não existe felicidade dentro de um ônibus, é impossível. Sério mesmo, vei. Vai dizer que você é feliz dentro de um ônibus lotado, o ônibus quase se desmantelando na pista, você se equilibrando nas curvas, um vai-e-vem da porra, suas pernas doendo e pra completar a merda toda, alguém pega o celular e poe lá o sonzão pra todo mundo ouvir. Juro que sempre que isso acontece, na minha mente eu me imagino chegando na pessoa, pegando o celular dela, jogando no chão, pisando, dando um tapa na cara da pessoa e dizendo pra ela ir pra aquele lugar que eu não tô afim de ouvir a música que ela tá ouvindo não. Penso mesmo.
E a prévia do inferno, mais conhecido como ponto de ônibus (o inferno é quando ce sobe nele)? Vai lá no terminal do Campus da UFS e aguarda. Ce tá lá sozinho, de boas, o ônibus chega e, não sei como, começa a brotar gente do chão e... brota gente do chão, é sério. É só o Vixi Maria/Campus (Vixi Maria é o nome carinhoso para o Santa Maria) apontar que pessoas começam a surgir do nada e etc. Sempre. E eu sou tão especialista em ônibus, que já sei o local exato onde me posicionar para o ônibus parar com a porta exatamente na minha frente. Sempre róla. Daí corro logo, né? porque nessa hora você só vê os estalos dos braços quebrando e etc.
Mas vamos falar de coisa séria, vamos falar de ser trollada por motorista de ônibus. Vei, tem coisas nessa vida que só acontecem comigo, e tenho dito. Acreditem se quiser, o motorista do ônibus me deu língua dia desses. Tô lá eu, no local exato em que o ônibus para com a porta na minha frente, e nada do ônibus sair. Olho pra trás e o motorista olha pra mim, ri e faz sinal pra esperar, daí eu fiz sinal de pressa, sabe? e pra ele ir logo e ri, ele disse pra esperar e riu de novo, e ele tava la do outro lado, dentro do ônibus com o fiscal e o cobrador. Aí beleza, esperei. Ele finalmente saiu, fez a curvinha, o povo começou a brotar do chão, todos se amontoaram, ele passou, olhou pra mim, deu língua e... ~seguiu para a garagem~. Aposto que ces nunca foram trolladas por motoristas de ônibus, pois é, eu fui.
E é isso aí, claro que tenho muitas histórias mais e tal, mas cansei. E hoje os ônibus foram de boas, principalmente na volta, que eu não vim nele porque peguei carona hahaha
Quem tiver história com ônibus e quiser compartilhar o sofrimento, estamos aqui para escutar.
Tchau!

(Ah, e olha que eu tenho coisa pra fazer, viu?)
sexta-feira, 2 de março de 2012 0 comentários
Me acostumei tanto com a solidão
que hoje não consigo dar a mão
a quem só quer me dar consolo.

Me acostumei tanto com somente a minha presença
que hoje eu obrigo ausência
pra quem só quer me ter por perto.

Me acostumei tanto a ser só minha
que prefiro andar sozinha
do que me perder com mais alguém
me perder de alguém
perder alguém.
quinta-feira, 1 de março de 2012 0 comentários

"Não estou pronta. Minha barriga dói. Eu tenho vontade de vomitar. Eu não consigo comer de tanto medo que eu estou sentindo. Eu quase desmaiei agora de manhã, porque pra piorar está calor. Não lido bem com calor. Não lido bem com nada que não seja eu em minha bolha arejada de imaginações. Mentira, não lido bem com minha bolha arejada de imaginações também. Não lido bem com nada. Não deu tempo de virar mulher. A hora que ele aparecer no desembarque do aeroporto, com sua cara de homem, com sua voz de homem, eu vou ter vontade de pedir que ele volte de onde veio e espere mais cem anos. Porque não deu tempo de eu virar mulher. Eu vou ter vontade de pedir que ele me carregue no colo até a casa da minha mãe e me entregue pra ela. Eu queria tomar sopa na casa da minha mãe. Eu lembrei agora que minha mãe me dava Sustagem quando eu ficava assim, tão assustadoramente encantada pelo mistério das coisas. E ela temia que eu desintegrasse. E agora? Como faz quando se é adulta? Qual é a sustagem de agora para que eu não desintegre? Como é que se ama com um corpo de trinta e três anos se por dentro eu tenho cinco anos e estou tremendo, apavorada, pressentindo o estrago que as coisas de verdade podem causar. Por que eu chamo de estrago quando sei que, na verdade, estrago é o que as coisas que não são de verdade causam. Eu tenho tamanho pra suportar o tamanho das coisas de verdade?
O amor chega em uma hora e eu ainda não consegui comer, escolher a roupa, arrumar minha franja, decidir se já posso amar. O amor chega em uma hora e vai quebrar meu gesso mas eu não decidi se os ossos já estão bons o suficiente. Mas ele vai chegar com trinta martelos e eu vou estar esperando, forte e decidida, pra receber a porrada. E o ar que vai entrar. E mais dor. E o ar que vai entrar. E quem sabe então alguma felicidade, já que fui corajosa. Quem sabe a felicidade seja a harmonia entre a dor e o ar que entram pelos poros que temos coragem de abrir? E quem sabe só o amor seja o martelo possível?
Escrevo isso e choro. Porque quero tanto e não quero tanto. Porque se acabar morro. Porque se não acabar morro. Porque sempre levo um susto quando te vejo e me pergunto como é que fiquei todos esses anos sem te ver. Porque você me entedia e dai eu desvio o rosto um segundo e já não aguento de saudade. E descubro que não é tédio mas sim cansaço porque amar é uma maratona no sol e sem água. E ainda assim, é a única sombra e água fresca que existe. Mas e se no primeiro passo eu me quebrar inteira? E se eu forçar e acabar pra sempre sem conseguir andar de novo? Eu tenho medo que você seja um caminhão de luz que me esmague e me cegue na frente de todo mundo. Eu tenho medo de ser um saquinho frágil de bolinhas de gude e de você me abrir. E minhas bolhinhas correrem cada uma para um canto do mundo. E entrarem pelas valetas do universo. E eu nunca mais conseguir me juntar do jeito que sou agora. Eu tenho medo de você abrir o espartilho superficial que aperto todos os dias para me manter ereta, firme e irônica. Minha angústia particular que me faz parecer segura. Eu tenho medo de você melhorar minha vida de um jeito que eu nunca mais possa me ajeitar, confortável, em minhas reclamações. Eu tenho medo da minha cabeça rolar, dos meus braços se desprenderem, do meu estômago sair pelos olhos. Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de deixar de ser."

Tati Bernardi
 
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